Especial de domingo: Firmes na luta, falta pouco

31/07/22

blogfolhadosertao.com.br

 

 

Ricardo Leitão *

 

A partir de  29 de julho, serão 65 dias para a eleição de 2 de outubro. Nunca foi tão importante votar e escolher candidatos comprometidos com o fim do desemprego, da fome e da inflação; da barbárie política e do autoritarismo; que se emprenhem pela volta do desenvolvimento e de condições mínimas de vida para os milhões hoje apartados de serviços públicos decentes de saúde, de educação e de segurança, escravos da desesperança.

 

 

Não bastará digitar o teclado da urna eletrônica, um gesto simples, de poucos minutos. É preciso ter consciência de que aquele gesto tem o poder de devolver a um passado infame um zumbi político e abrir uma porta por onde passarão milhões, para se reconectar com o futuro.

Até as urnas de outubro, e depois delas, continuaremos firmes na luta. Sem nunca esquecer, no entanto, que depois de quatro anos de desgoverno, caminhamos sobre os escombros de um país que aguarda ser ressuscitado. O crescimento econômico será medíocre neste e no próximo ano; a inflação permanece em dois dígitos, e a falta de trabalho penaliza 12 milhões de brasileiros; existem 33 milhões de famintos; a educação pública foi desmontada e a pandemia vai matar 700 mil pessoas; a devastação ambiental é um escândalo mundial que, entre outros desastres do desgoverno, leva o País a ser tratado como um pária nos fóruns internacionais.

E há a corrupção, que se infiltra nos ministérios como uma serpente venenosa. Nos últimos meses, o caso mais notório foi o da quadrilha de pastores que atuou no Ministério da Educação, cobrando propinas em troca da liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O ministro Milton Ribeiro chegou a ser preso.

Anteriormente, outra quadrilha passou a operar no Ministério da Saúde, em plena pandemia, negociando contratos superfaturados para aquisição de vacinas. Por esses tempos, um ministro do Meio Ambiente foi exonerado depois de ter se envolvido com quadrilha de exportação de madeira ilegal da Amazônia. Completa o cupinzeiro de verbas públicas o chamado “orçamento secreto”. Inventado pela base bolsonarista no Congresso, trata-se de um esquema obscuro de distribuição de recursos públicos a aliados do desgoverno, para obras e compras nos municípios, com precário controle dos órgãos de fiscalização.

Como de costume, Jair Bolsonaro tenta se afastar das denúncias: “Eu tenho 23 ministros, mais de uma centena de secretários e uns 20 mil cargos comissionados. Se alguém faz algo errado, vai botar a culpa em mim?”. Não é essa a constatação do relatório sobre índices de corrupção na América Latina, divulgado em junho passado pelo Conselho da América, em parceria com a ONG Controle de Riscos. Segundo o documento, o Brasil caiu da sexta para a décima posição na repressão à corrupção, feito a ser creditado ao desgoverno Bolsonaro.

Nada disso vai mudar nos dois meses que nos separam das eleições de outubro. Não há tempo, faltam decisão e dinheiro. Todo o esforço do desgoverno se concentra agora em como gastar rapidamente R$ 41 bilhões, que lhe foram liberados pelo Congresso, em projetos que beneficiem sua base e a população mais pobre. Justo em relação aos mais pobres, não fossem medidas prioritariamente eleitoreiras, para evitar a derrota de Bolsonaro nas urnas de outubro. E pior: sem mandato, Sua Excelência perderá o foro privilegiado e poderá ser julgado pela Justiça comum, o que eleva as possibilidades de responsabilização penal.

Nos R$ 41 bilhões de “bondades”, R$ 26 bilhões estão reservados para o pagamento, até o final do ano, do Auxílio Brasil. O programa repassará a famílias pobres R$ 600,00 por mês. Caso seja estendido para os 12 meses de 2023, o repasse será de R$ 62 bilhões. O Ministério da Economia já avisou que no Orçamento do próximo ano não há dinheiro previsto para cobrir tal despesa.

Na emergência eleitoreira o Auxílio Brasil vampirizou os recursos de outros importantes programas sociais. O orçamento da Farmácia Popular, que vende remédios com 90% de desconto, caiu de R$ 3,2 bilhões para R$ 2,4 bilhões, uma redução de 25%. O programa Casa Verde e Amarela deixou de oferecer subsídio de até 90% do valor do imóvel, sem juros, para famílias de renda mais baixa. Houve também redução profunda nos recursos do Fies, criado para financiar o acesso dos mais pobres ao ensino superior. Seu orçamento passou de R$ 22 bilhões em 2018 para R$ 5,5 bilhões neste ano.

As próximas pesquisas de intenção de voto indicarão se o Auxílio Brasil – derradeira aposta de Jair Bolsonaro – lhe garantirão alguma esperança em outubro. Seu objetivo há muito tempo deixou de ser a vitória no primeiro turno; agora é impedir que Luiz Inácio Lula da Silva decida a disputa na primeira rodada. Nos últimos dias, cresceram as apostas neste segundo resultado.

Caso ele se configure, restaria a Bolsonaro a polarização radical, para anular a “terceira via” e dividir os votos com o petista – assim os dois passariam para o segundo turno. A manobra já causou momentos hilários. Na convenção do PL, que oficializou a candidatura de Sua excelência à reeleição, Bolsonaro voltou a desancar as urnas eletrônicas. Mas como, se por elas foi eleito em 2018 e serão elas que apurarão os votos de seus eleitores em 2022?

O desespero conturba a limitada capacidade cognitiva de Sua Excelência. Ele sabe que perder, no seu caso, é muito mais do que ser derrotado – contingência comum em uma democracia. É ser apontado, de um lado, como o responsável pelo fracasso da extrema direita de manter o poder no Brasil e, do outro, testemunhar a volta do centro-esquerda, à frente de um esforço coletivo de restauração do Brasil.

Jair Messias Bolsonaro está com medo. Cada passo seu deve ser monitorado, gravado, divulgado. Firmes na luta, falta pouco para outubro.

 

  •  Ricardo Leitão é Jornalista

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